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Pastagem de gramíneas: a base de uma pecuária leiteira saudável

A utilização de pastagens de gramíneas forrageiras tropicais continua sendo a base para uma pecuária leiteira sustentável sob os aspectos ambiental, social e econômico. 

Com a alimentação representando de 40% a 50% dos custos de produção, é essencial investir em um volumoso de qualidade, produtivo e de baixo custo.

A importância das pastagens na redução de custos

Para garantir um bom desempenho da pecuária leiteira, o alimento volumoso deve apresentar:

  • Boa qualidade: recomenda-se entre 14% e 16% de proteína bruta e 60% a 65% de nutrientes digestíveis totais.
  • Alta produtividade: o ideal é no mínimo 22 toneladas de matéria seca (MS) por hectare.
  • Baixo custo de produção.

Confira o custo por tonelada de MS dos principais volumosos:

Alimento VolumosoCusto de Produção (R$/t MS)
Pastagem rotacionada de gramínea forrageira tropical50 a 70
Cana-de-açúcar90 a 110
Silagem de milho140 a 160
Feno de gramínea forrageira tropical170 a 220

(Fonte: EMBRAPA Gado de Leite, 2022)

Levando esses valores em consideração, a pastagem rotacionada de gramínea forrageira tropical se apresenta como a melhor opção para alimentação ao longo do ano. Além do menor custo de produção, evita gastos adicionais com mão de obra para distribuição do alimento aos animais, o que acontece no caso da cana de açúcar, da silagem de milho e do feno, por exemplo.

É possível produzir leite apenas com pastagem?

Sim, desde que a capacidade de suporte seja baseada na produção da forragem durante a estação seca. No entanto, essa estratégia pode resultar em uma lotação baixa, comprometendo a produtividade da terra, que é essencial para a rentabilidade da atividade.

A produtividade leiteira depende de dois fatores principais:

  1. Quantidade de vacas em lactação por hectare.
  2. Média de produção de leite do rebanho.

Exemplo de Simulação

Uma propriedade de 10 hectares com lotação anual de 2 Unidades Animal (UA)/ha (1 UA = 450 kg de peso vivo) comportaria 20 UAs. Se 70% forem vacas e 80% delas estiverem em lactação, haverá aproximadamente 11 UAs produzindo leite.

  • Com uma produção de 12 litros/dia, a produção total será de 132 litros/dia.
  • Considerando um preço médio de R$ 2,30/litro (Cepea/Esalq, 2024), a renda bruta mensal será de R$ 9.108,00.
  • Com um lucro de 30%, o ganho mensal será de R$ 2.732,40.

Se a lotação aumentar para 10 UAs/ha, teremos 100 UAs na área:

  • 56 UAs em lactação, produzindo 672 litros/dia.
  • Renda bruta mensal de R$ 46.368,00.
  • Com lucro de 20%, o ganho mensal será de R$ 9.273,60.

No caso acima, a média de produção das vacas foi mantida para efeito de comparação. É evidente que a seleção do rebanho no sentido de aumentar a média de produção de leite deverá ser realizada. Neste caso, o uso dos alimentos concentrados é essencial para suprir exigências nutricionais, que porventura as pastagens não consigam atender (no geral, acima de 10 kg de leite/dia).

Manejo de pastagens de gramíneas durante a estação seca

Mas como obter lotação média de 10 UAs/ha ao longo do ano, se durante a época seca do ano (Brasil central) as pastagens sofrem com a estacionalidade da produção?

Nessa época, será preciso utilizar outros alimentos, como cana de açúcar, silagem ou feno, como volumoso principal. A consequência dessa alteração no cardápio é o aumento do custo de produção, pois todos eles têm um custo de produção superior ao das pastagens e, além disso, necessitam de mão de obra para serem manuseados.

A volta ao uso das pastagens dependerá da elevação da temperatura ambiente, dos aumentos da intensidade luminosa e do fotoperíodo e do início das chuvas.

Irrigação Como Alternativa

A irrigação surge como uma estratégia para minimizar os efeitos da seca, permitindo a utilização da pastagem por mais tempo ao longo do ano e reduzindo a dependência de outros volumosos oferecidos nos cochos, além de reduzir o custo de produção.

Com a irrigação, é possível estender o uso das pastagens para os meses de setembro, outubro e abril, além do período tradicional de novembro a março.

A partir de agosto, na região do Brasil central, fatores como temperatura, fotoperíodo e intensidade luminosa passam a limitar menos o crescimento das gramíneas forrageiras tropicais. Nesse período, a água e a nutrição das plantas tornam-se fundamentais para maximizar o crescimento vegetal.

Conclusão

A pecuária leiteira baseada em pastagens tropicais é viável e altamente rentável quando bem manejada. A adoção de técnicas como irrigação e suplementação estratégica pode ajudar a reduzir custos e melhorar a produtividade. Manter uma alta lotação é essencial para garantir o lucro, desde que a oferta de forragem seja suficiente ao longo do ano.

Referências

  • Produção de Leite a Pasto (Sergio Novita Esteves, Airton Manzano, Alfredo R. de Freitas, Nelson Novaes e Oscar Tupý)
  • EMBRAPA Gado de Leite, 2022. Relatório Técnico.
  • Cepea/Esalq, 2024. Preço do leite ao produtor.
  • EMBRAPA, 2023. Produção de leite a pasto e irrigação.

6 principais causas de falhas na formação de pastagens tropicais e como evitá-las

A pecuária brasileira é referência mundial pelo uso extensivo de pastagens tropicais. Um dos principais fatores que impulsionaram essa expansão ao longo dos anos foi a disponibilidade de sementes forrageiras de qualidade. Atualmente, o Brasil lidera como o maior produtor e exportador mundial de sementes de forrageiras tropicais, consolidando sua posição no setor (EMBRAPA, 2023).

Contudo, mesmo com os avanços, falhas na formação de pastagens ainda são comuns, especialmente quando não se adotam boas práticas de manejo. Um plantio inadequado pode comprometer a produtividade e a longevidade da pastagem, gerando prejuízos consideráveis.

Peculiaridade nas falhas de formação de pastagens tropicais

Os insucessos na formação de pastagens tropicais são característicos. Devido ao fato de envolverem plantas perenes, um sucesso parcial pode ser mais problemático do que um fracasso total.

Se a falha for completa, o pecuarista tende a tomar uma decisão rápida para um novo plantio, permitindo a formação da pastagem ainda naquele ciclo agrícola. No entanto, quando a pastagem se desenvolve de forma parcial, o produtor geralmente espera que a área se recupere naturalmente, o que pode ser um erro. Isso favorece o crescimento de ervas daninhas e a erosão do solo, prejudicando a produtividade e atrasando o uso da pastagem.

Principais causas de fracasso na formação de pastagens

Muitas vezes, a culpa das falhas é atribuída à semente, mas as razões são variadas. Entre os principais fatores que comprometem a formação das pastagens, destacam-se:

1. Profundidade inadequada do plantio

As sementes de forrageiras são pequenas e sensíveis à profundidade de plantio. Quando enterradas excessivamente, podem germinar, mas não têm força para emergir. Se ficarem expostas, podem não absorver água suficiente ou serem destruídas por pássaros e insetos.

Recomendação: A profundidade ideal varia entre 0,5 e 2 cm, dependendo da espécie, garantindo melhor germinação e estabelecimento (VALLE et al., 2022).

2. Preparo inadequado do solo

Um solo excessivamente fofo pode comprometer a retenção de umidade necessária para a germinação. Este problema ocorre quando se faz um número excessivo de gradagens ou quando são utilizados tratores traçados.

Da mesma forma, um preparo “grosseiro”, ou seja, aquele que resulta em torrões muito grandes na superfície, dificulta o contato das sementes com o solo, e prejudica a germinação.

Recomendação: O ideal é optar por preparo mínimo ou plantio direto, mantendo a estrutura do solo e reduzindo perdas hídricas (EMBRAPA, 2023).

3. Mistura inadequada com fertilizantes

A mistura de sementes com fertilizantes é comum para facilitar a distribuição, mas pode comprometer a viabilidade das sementes. Produtos como ureia, cloreto de potássio e sulfato de amônio podem ser tóxicos para as sementes.

Recomendação: fosfatos naturais, calcário, areia e torrões de solo são exemplos de produtos inertes que podem ser utilizados na mistura.

4. Fermentação da matéria orgânica

É muito importante esperar pelo apodrecimento do material vegetal (restos da cultura anterior ou de ervas crescidas após a última colheita), já que a incorporação de resíduos vegetais ao solo pode gerar fermentação excessiva, liberando compostos tóxicos para as sementes.

Recomendação: Aguardar 60 a 90 dias entre a incorporação da matéria orgânica e o plantio da pastagem (BARBOSA et al., 2022).

5. Época inadequada de semeadura

A escolha do período de semeadura é crucial para o sucesso da pastagem e deve ser baseada nos períodos de chuva.

Recomendação: o período ideal para semeadura de pastagens tropicais no Brasil Central é o início das chuvas, entre outubro e dezembro. Já os plantios tardios, a partir de março, apresentam maiores riscos devido à redução das precipitações. (VALLE et al., 2022).

6. Qualidade das Sementes

O plantio de sementes de má qualidade é causa comum de fracassos na formação de pastagens, principalmente entre os pecuaristas que usam o preço por quilograma de sementes como principal critério de compra, sem se preocupar com a qualidade do produto adquirido.

O valor cultural das sementes (também conhecido como %VC ou “pontos de VC”) é uma informação imprescindível na compra de sementes de forrageiras, pois este índice é calculado com base nas percentagens de germinação e de pureza física do lote, o que sintetiza duas das principais características de qualidade das sementes.

Estudos recentes indicam que a adoção de sementes certificadas com %VC acima de 60% garante melhor estabelecimento da pastagem (EMBRAPA, 2023).

Recomendação: estudos recentes indicam que a adoção de sementes certificadas com %VC acima de 60% garante melhor estabelecimento da pastagem (EMBRAPA, 2023).

Conclusão

O sucesso na formação de pastagens tropicais depende de uma combinação de fatores, como a escolha correta das sementes, técnicas adequadas de plantio e manejo eficiente do solo. A adoção de boas práticas baseadas em pesquisas científicas contribui para pastagens mais produtivas e longevas, garantindo maior eficiência na pecuária brasileira.

Gostou das dicas? Compartilhe este artigo e ajude mais pecuaristas a melhorar a qualidade de suas pastagens!

Referências

  • BARBOSA, R. A. et al. Manejo e estabelecimento de pastagens tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 51, p. 1-15, 2022.
  • EMBRAPA. Tecnologias para pastagens sustentáveis. Brasília: EMBRAPA, 2023.
  • SOUZA, Francisco H. Dübbern de. Anatomia do Sucesso na Formação de Pastagens. Revista JC Maschietto, ano 1, n. 1, ago. 2003.
  • SOARES, L. H. et al. Impacto do uso de fertilizantes na germinação de sementes forrageiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 56, p. 98-107, 2021.
  • VALLE, C. B. et al. Atualização técnica sobre pastagens tropicais. Campo Grande: EMBRAPA Gado de Corte, 2022.

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