60 Anos de História

Há 60 anos, começava a epopeia da semente de pastagem no Brasil.

Toda caminhada começa com um primeiro passo, e isso se aplica a qualquer empreitada humana. Para evoluir, a humanidade teve que caminhar um bocado. Invariavelmente, as conquistas individuais e de sociedades partiram de um primeiro movimento, por vezes pequeno e tateante, mas que apontava caminhos que acabaram por levar a transformações disruptivas. Desde os primeiros passos de um bebê até um empreendedor que começa a ensaiar sua ideia a partir de uma garagem ou um pesquisador que testa em laboratório hipóteses em busca de respostas e soluções, esses movimentos demandaram energia, foco e sentido de propósito.

Há exatos 60 anos, o setor de pastagem tropical assistia a um exemplo deste processo. Até o início da década de 60, não se formava pastagem a partir de sementes. Tanto no Brasil quanto em outros países tropicais, novas áreas eram formadas com a utilização de mudas de plantas, com todos os inconvenientes que essa técnica traz consigo: custos maiores, necessidade de mão de obra intensiva, mortandade de plantas e tempo de maturação do processo. Estava claro que a técnica das mudas inviabilizava o crescimento em escala da pecuária brasileira.

Foi nesse cenário que surgiu para o setor de sementes a figura do Eng. Agrônomo José Carlos Maschietto. Em 1964, com cinco anos de formado pela ESALQ-USP, José Carlos trabalhava na CATI de Campinas quando recebeu uma bolsa para passar dois anos nos Estados Unidos estudando Tecnologia de Sementes. Recém-casado, não pensou duas vezes e embarcou com a esposa e as malas.

Em terras americanas, foi exposto a uma série de tecnologias de produção, benefício, análise e utilização de sementes. Obviamente, eram todas sementes de espécies temperadas, principalmente grãos e cereais. Mas ele estava atento e absorveu o máximo de informação e experiência para quando voltasse ao Brasil. Foi na Universidade do Mississipi que José Carlos conheceu outra personagem chave para o setor de sementes no Brasil, Francisco Ferraz de Toledo, com quem engatou uma parceria técnica e uma amizade para a vida inteira. O Professor Toledo veio a ser o responsável pelo estabelecimento das primeiras disciplinas de sementes na ESALQ, bem como a posterior criação do Departamento de Tecnologia de Sementes na mesma instituição – o primeiro do país.

Ao fim de 1965, José Carlos regressou ao Brasil com esposa, malas e uma filha recém-nascida. Agora como Chefe do Laboratório de Sementes da CATI, ele se dedicou à sistematização de seu aprendizado e à adaptação das tecnologias usadas em outras culturas para sementes de gramíneas forrageiras. Temas como processos de produção de sementes, equipamentos de benefício, técnicas de análise da qualidade das sementes e normas para a comercialização foram sendo estudados, tendo como foco a utilização para sementes de pastagem. Um por um, esses desafios foram enfrentados pela dupla José Carlos e Francisco Toledo.

Maquinários utilizados pelo setor de arroz foram sendo adaptados. Equipamentos usados em análise laboratorial de qualidade de sementes foram sendo importados ou adaptados. A dupla teve ainda papel decisivo nos debates que culminaram com o lançamento do Regulamento da Certificação de Sementes pelo Ministério da Agricultura, em 1969. As bases para o desenvolvimento do setor de sementes para pastagem estavam lançadas. Mas faltava o ‘pulo do gato’. Ainda não havia um mercado para as sementes, pois os pecuaristas não tinham uma base técnica para formar suas pastagens a partir de sementes.

Para enfrentar este desafio, José Carlos começou a realizar experimentos em uma propriedade da família em Tupã/SP. Em diversas parcelas de terra, ele testou diferentes formas de preparo, correção e adubação do solo, taxas de semadura e técnicas de distribuição das sementes de Colonião (a cultivar de Panicum melhorado disponível à época). Compilando os resultados de cada experimento, ele acabou por escrever e lançar o que nomeou “Método 60 Dias de Formação de Pastagem de Capim Colonião”, onde advogava a necessidade de um pilar técnico: 1) adubação fosfatada; 2) a utilização de uma semente com qualidade conhecida (criou e lançou o índice ‘Valor Cultural’, que combina os dois principais quesitos de qualidade da semente – % de pureza e % de germinação, base para o cálculo da taxa de semeadura – utilizado até os dias atuais para a comercialização de sementes); e 3) mecanização do plantio (projetou a primeira semeadora de sementes de pastagem do país – produzida pela Terence – que combinava a distribuição das sementes, do adubo e a posterior compactação das sementes no solo).

A proposta de José Carlos era que, se o pecuarista atendesse a este tripé técnico, a área de pastagem estaria pronta para a entrada dos animais em 60 dias! Foi uma revolução. O modelo começou rapidamente a circular pelos meios técnicos e de fomento, e o nome de José Carlos se projetou. O ‘Método 60 dias…’ passou a ser conhecido como ‘Método Maschietto’, para finalmente se firmar como ‘Método CATI’, onde ele trabalhava.

Pessoas do Brasil todo passaram a visitar a Fazenda São João, em Tupã, para conhecer a novidade. Comitivas do Banespa e do Banco Mundial também passaram por lá, para avaliar o uso da solução na transformação da pecuária nacional. Percebendo a oportunidade, José Carlos resolveu vestir um novo personagem, além do técnico: o de empreendedor. Em sociedade com o irmão Arnaldo Maschietto, começou a produzir e comercializar, como pessoa física, sementes com análise de qualidade. Foi a primeira vez que se fez isso no Brasil, e durante anos os irmãos Maschietto foram os únicos a fornecer sementes com qualidade analisada.

Inicialmente, as análises eram feitas no Laboratório da CATI. Pouco tempo depois, José Carlos criou, em sociedade com o Professor Francisco Toledo, o primeiro laboratório particular de sementes de forrageiras do país, conhecido como Laboratório de Análise de Sementes de Campinas (LASC). Com o crescimento da demanda, os irmãos Maschietto, que inicialmente produziam suas sementes em propriedades próprias, passaram a incentivar outros agricultores a se dedicarem a produzir sementes em sistema de parceria. Um número crescente de áreas passou a ser utilizada para a produção de sementes de Colonião no noroeste e oeste do Estado de São Paulo.

Com os anos, muitos desses agricultores começaram a comercializar sementes sob suas próprias marcas, culminando com a criação de um novo setor econômico para o agronegócio, fundamental para a guinada da pecuária nacional. O ‘Método CATI’ foi um primeiro marco importante para o setor de sementes de pastagem no país. Um segundo marco, não menos significativo, foi o lançamento, pela Embrapa, da Brachiaria Brizantha cv Marandu (popularmente conhecida como Braquiarão), no início dos anos 80. Por se tratar de uma cultivar muito mais rústica e resistente a desafios hídricos e de nutrição do que o Colonião, a Marandu viabilizou decisivamente a expansão da pecuária brasileira em direção ao Cerrado e ao norte do país, regiões onde hoje se pratica a bovinocultura de maior volume do Brasil.

A participação da Embrapa foi decisiva para o negócio de sementes para pastagem, e não só pelos lançamentos de novos cultivares. Seus pesquisadores tiveram e têm papel fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias para a formação e manejo de pastagens nos diferentes biomas e realidades do território brasileiro. Atualmente, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é a tecnologia que mais tem contribuído para o agronegócio nacional em termos de produtividade. As gramíneas forrageiras – em especial as Brachiarias – são fundamentais neste processo. E sua contribuição não seria viável sem a ascensão da tecnologia de sementes e a posterior criação de um setor organizado para a sua produção.

O segmento de sementes para pastagens é uma realidade consolidada no país, com um faturamento estimado em R$ 5 bilhões, centenas de empresas formais e milhares de empregos diretos e indiretos envolvidos em sua produção e comercialização. Cerca de 330 mil hectares são dedicados à produção de mais de 170 mil toneladas de sementes puras. O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de sementes de gramíneas forrageiras tropicais. Exportamos para praticamente todos os países da América Latina e um número crescente no continente africano, mercados que praticam a pecuária a pasto com tecnologia brasileira, como sementes e técnicas de formação e manejo de pastagens.

Um número incalculável de pessoas contribuiu para o fortalecimento e consolidação do setor de pastagens, como pesquisadores, extensionistas, acadêmicos e consultores que dedicaram suas vidas a desenvolver e aplicar novas tecnologias. Isso sem falar de empresários e técnicos das diversas empresas de sementes que prosperaram nas últimas décadas pelo país e que tiveram papel fundamental para levar essas soluções até os produtores. Olhando para trás, conclui-se que o hoje longínquo ano de 1964 foi importante para esta revolução.

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