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Compactação por pisoteio não inviabiliza integração lavoura e pecuária

Eng. Agro Rodrigo Paniago

Há tempos já se sabe que não é a compactação a grande vilã da degradação das pastagens e sim o manejo inadequado ao qual ela é submetida, como, por exemplo, excesso de lotação e falta de reposição de nutrientes, entre outros.

Uma forma de repor os nutrientes de forma barata é a utilização da integração lavoura e pecuária (ILP). As vantagens da utilização do sistema ILP, tanto para o pecuarista como para o agricultor, são muitas e também já estão bem divulgadas. Apesar disso, existe uma séria resistência na sua utilização, especialmente por parte de alguns agricultores, temerosos de que o pisoteio animal possa prejudicar a produtividade da lavoura seguinte.

A precaução destes agricultores não é banal, pois vários estudos científicos já evidenciaram a compactação do solo pelo pisoteio dos animais, que ocorre na camada de 0 a 10 centímetros de profundidade. O grau desta compactação é influenciado pela textura do solo e a sua umidade, associados ao manejo da pastagem, ou seja, taxa de lotação, tempo de pastejo e resíduo de forragem após o pastejo.

Outros fatores também podem influenciar no efeito da compactação por pisoteio dos animais: o uso da irrigação em pastagens, que pode elevar demasiadamente a umidade do solo intensificando o efeito da compactação pelo pisoteio; e o plantio de gramíneas forrageiras de crescimento entouceirado e cespitoso, que promovem baixa proteção do solo em relação à distribuição do peso dos animais.

A possibilidade da compactação por pisoteio, que no passado era somente estudada em sistemas exclusivos de pastagem, inviabilizar ou limitar o uso integrado da bovinocultura com lavouras anuais levou diversos pesquisadores a estudarem o seu efeito em sistemas de ILP.

Para surpresa de muitos agricultores, desconfiados com o “pé do boi”, vários estudos não encontraram efeitos deletérios do pisoteio do gado sobre a produção da lavoura subseqüente, entre eles podemos citar Fraga et al (2007), Flores et al (2007) avaliando a cultura de soja.

Assim como no trabalho de Junior et al (2007), Cardoso et al (2007) avaliaram o efeito do pisoteio em pastagens de inverno, que normalmente promovem menor proteção do solo do que as pastagens de clima tropical, como as braquiárias, e também não verificaram efeitos negativos sobre a lavoura seguinte quando do uso anterior da área para pastejo.

Entre os agricultores, crentes nos efeitos maléficos do pisoteio dos bovinos, uma certeza é de que nas áreas de maior concentração dos animais, como bebedouros e porteiras, os efeitos de tal compactação seriam ainda piores. No entanto, Lustosa (1998), não só determinou que este tipo de local representa entre 1 a 3% da área total, como também o efeito causado pelos animais nesses pontos pode ser facilmente suplantado pelo uso da semeadora de plantio direto com facão, que é capaz de romper a camada compactada do solo, evitando problemas de germinação da cultura que será plantada. Outra observação interessante deste autor é que essas áreas de maior concentração dos animais apresentam uma compensação química pela concentração de nutrientes reciclados pelos animais, isto é, pela grande deposição de esterco neste locais.

Um fator diretamente ligado ao manejo das pastagens, que é de desconhecimento da maioria dos agricultores, é o fato de que em sistema de pastejo rotacionado, onde há períodos específicos de pastejo e descanso da pastagem, as raízes das gramíneas promovem uma ação mecânica positiva sobre o solo, formando vários canalículos que após a corriqueira decomposição do sistema radicular, neste tipo de sistema, permite a infiltração de água, ar e até o deslocamento de nutrientes. Isto foi concluído por da Silva e colaboradores em 2002, após avaliarem os efeitos do pisoteio dos animais em uma pastagem rotacionada e irrigada em solo Podzólico Vermelho-Escuro com 44% de argila, no município de Piracicaba/SP.

Como a rotação de pastagens com cultivos agrícolas de ciclo anual, em sistema de plantio direto, também representa um período de descanso para a área, tal qual no sistema rotacionado de pastejo, podemos esperar uma regeneração do solo pelo efeito do crescimento do sistema radicular das plantas cultivadas após o uso da área para pastejo. Esta hipótese foi comprovada por Moraes & Lustosa (1997), Coimbra (1998), Consalter (1998), Moraes et al (2002) e Muraro (2004).

Como dito anteriormente, a relação entre a umidade do solo e o pisoteio dos animais está diretamente relacionada com a compactação do solo, porém devemos lembrar que, na maioria das regiões onde é atualmente utilizado o ILP, o pastejo é realizado no período mais seco do ano, onde justamente temos menor umidade de solo, ínterim apelidado por muitos de “terceira safra”.

Pelo que foi aqui exposto, podemos entender que a compactação do solo pelo pisoteio dos animais é superficial e temporária, e que é perfeitamente viável a condução de lavouras anuais após o uso da área para pastejo dos animais em sistema de ILP. No entanto, para utilizar tal tecnologia o produtor precisa tomar uma série de cuidados, a fim de evitar problemas com tal tipo de compactação do solo, dentre eles podemos destacar:

  • em pastagens irrigadas evitar o pisoteio da área logo após a irrigação;
  • em pastagens localizadas em solo de elevado teor de argila, promover a retirada temporária dos animais ou diminuição da lotação, quando em lotação elevada, logo após a ocorrência de chuvas ou mesmo irrigação;
  • evitar a formação de pastagens com plantas de crescimento entouceirado e cespitoso na rotação de culturas;
  • evitar lotações elevadas;
  • evitar o super-pastejo, permitindo assim um resíduo capaz de promover um rápido e vigoroso crescimento do sistema radicular;
  • sempre promover períodos de descanso para a pastagem, ou seja, utilizar manejo rotacionado;
  • no plantio de culturas anuais, utilizar máquinas semeadoras dotadas de instrumentos capazes de romper adequadamente camadas superficiais do solo potencialmente compactadas.

Literatura citada

COIMBRA, C. H. Avaliação da compactação de um Latossolo Bruno utilizado em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária. Dissertação (Mestrado em Agronomia - Área de Concentração em Ciência do Solo, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná), Curitiba, 1998.

CONSALTER. M. A. S. Sistema Integrado Lavoura-pecuária e Compactação em Latossolo Bruno. 1998. 80 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia Ciência dos Solos) - Universidade Federal do Paraná. 1998.

FLORES, J. P. C. et al . Atributos físicos do solo e rendimento de soja em sistema plantio direto em integração lavoura-pecuária com diferentes pressões de pastejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 31, p.771-780, 2007.

FRAGA, T.I. Atributos físicos do solo e rendimento de soja em sistema plantio direto em integração lavoura-pecuária com diferentes pressões de pastejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.31, n.4, p.771-780, 2007.

LUSTOSA, S.B.C. Efeito do pastejo nas propriedades químicas do solo e no rendimento de soja e milho em rotação com pastagem consorciada de inverno no sistema de plantio direto. Curitiba, 1998. 84p. Dissertação (Mestrado em Agronomia - Ciência do Solo) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná. 1998.

MORAES, A. , LUSTOSA, S.B.C. Efeito do animal sobre as características do solo e
a produção da pastagem. In: Simpósio sobre avaliação de pastagens com animais. UEM, p.129-149, 1997.

MORAES, A. et al. Integração lavoura - pecuária no sul do Brasil. In: I Encontro de Integração Lavoura-Pecuária no Sul do Brasil, 1, 2002, Pato Branco. Anais... Pato Branco: CEFET-PR, p. 3-42. 2002.

MURARO. M. R. Componentes físicos do sistema de raízes de pastagem de inverno formada pelo consórcio aveia e azevém no sistema integração lavoura-pecuária. 2004. 85p. Dissertação (Mestrado em Agronomia - Produção Vegetal). Universidade Federal do Paraná. 2004.

SILVA, A. P. et al. Qualidade física de solos sob sistemas intensivos de pastejo rotacionado. In: Simpósio sobre Manejo da Pastagem. ESALQ/USP, p.79-98, 2002.



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