Artigo publicado na Revista JC Maschietto ano 01, no 01, agosto/2003
Artigo: Anatomia do Sucesso na Formação de
Pastagens Dr. Francisco H. Dübbern de Souza
Engº Agrº (CREA nº 46.756, 6ª Região),
Dr., Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP (www.cppse.embrapa.br).
Em nenhum lugar no planeta cultiva-se pastagens tropicais
na mesma escala em que as temos cultivado no Brasil nestes últimos 30
anos. A ampla disponibilidade de sementes tem tudo a ver com este fato; afinal,
a expansão de áreas tão amplas, cobertas por pastagens
cultivadas, depende da disponibilidade de sementes de forrageiras.
Neste período, a indústria de sementes de
forrageiras no Brasil alcançou notável desenvolvimento e hoje
mostra-se plenamente capacitada a suprir as necessidade do mercado nacional
e internacional com sementes de boa qualidade. Como resultado, o Brasil é
hoje o maior consumidor, produtor e exportador de sementes de forrageiras tropicais.
Neste cenário, a empresa “Sementes JC MASCHIETTO” sempre
se destacou pelo pioneirismo e pela qualidade de suas sementes.
Apesar disso, fracassos na formação de pastagens
ainda ocorrem, com maior freqüência entre os pecuaristas pouco informados.
Os insucessos na formação de pastagens tropicais são peculiares.
Por envolverem plantas perenes, o sucesso parcial da formação
é pior do que o fracasso total. Isto porque, neste último caso,
o pecuarista é motivado a tomar rapidamente a decisão de fazer
novo plantio, o que pode permitir a obtenção de pastagem formada
ainda naquele ano agrícola.
No caso de sucesso parcial, ou seja, aquele no qual a população
de plantas resultantes do plantio é baixa e/ou seu estabelecimento
é desuniforme e lento, o pecuarista tende a esperar que a formação
se complete por meio do crescimento das plantas e da ressemeadura natural. Ou
seja, há uma tendência em postergar uma nova semeadura. Com isto,
aumentam as possibilidades de invasão de ervas daninhas e erosão
do solo, cujos efeitos deletérios se farão sentir a longo prazo.
Invariavelmente, esta decisão resulta em decréscimos de produtividade
da pastagem e no retardamento do início da sua utilização.
Quase sempre, atribui-se os fracassos à semente.
No entanto, sabe-se que as causas de fracasso são muitas; a qualidade
das sementes plantadas é apenas uma delas. Dentre as causas mais freqüentes
de fracassos, destacam-se:
1. Plantio muito fundo
As sementes de forrageiras são pequenas se comparadas
às sementes de grandes culturas, assim, é fácil enterrá-la
demais no plantio. Quando isto acontece, a semente pode até germinar,
mas a plantinha não tem força para emergir acima da superfície
do solo e morre. Por outro lado, se ficarem expostas sobre a superfície
do solo, isto é, descobertas, muitas sementes serão destruídas
por pássaros e insetos, ou não germinarão, por não
conseguirem absorver água em quantidade suficiente. Além disso,
nestas circunstâncias, muitas plantinhas ressecarão e morrerão
após a germinação. O resultado de tudo isto é uma
população pequena de plantas, insuficiente para sustentar produtividades
econômicas. Assim, para que isto não aconteça, no plantio
é preciso que fiquem cobertas apenas por uma fina camada de solo.
2. Solo mal preparado
Quando muito fofo, a superfície do solo perde água
com rapidez e não há reposição rápida o suficiente.
Este problema ocorre quando se faz um número excessivo de gradagens.
Entretanto, isto também ocorre, por exemplo, quando são utilizados
tratores traçados, arrastando grades com disco de 32” em solos
arenosos. Neste caso, mesmo um curto período sem chuvas é suficiente
para dificultar a germinação das sementes, pois a superfície
seca muito depressa; o problema é que, nestas condições,
a estrutura do solo não permite a vinda de água das camadas mais
profundas do solo, através da capilaridade, para repor as perdas. Da
mesma forma, um preparo “grosseiro”, ou seja, aquele que resulta
em torrões muito grandes na superfície, dificulta o contato das
sementes com o solo, e prejudica a germinação.
3. Sementes misturadas com fertilizantes inapropriados
Em muitas regiões, o esparramador de calcário é o equipamento preferido para a semeadura à lanço, de pastagens. O problema é que a maior parte deles não permite a distribuição de quantidades menores que 10 kg/ha. Assim, para aumentar o volume a ser distribuído, muitos produtores misturam as sementes com fertilizantes na hora do plantio. Isto torna possível regular o equipamento para permitir a semeadura de quantidades adequadas, sem o desperdício que resultaria da semeadura de sementes não misturadas.
O problema é que as sementes morrem se colocadas em contato direto com certos tipos de fertilizantes como, por exemplo: cloreto de potássio, uréia, e sulfato de amônio. O super-fosfato (simples ou triplo) é um caso especial: ele pode ser misturado com sementes, desde que a mistura seja plantada logo após haver sido preparada. Produtos inertes como fosfatos naturais, calcário, areia, torrões de solo, etc não causam danos às sementes e podem, portanto, ser utilizados na mistura.
4. Fermentação
de matéria orgânica recém-incorporada
É muito importante esperar pelo apodrecimento do
material vegetal (restos da cultura anterior ou de ervas crescidas após
a última colheita) incorporado ao solo pela aração. Se
isto não for feito, as sementes do capim plantado morrerão por
causa dos efeitos da fermentação deste material. Quase sempre,
60 – 90 dias entre a incorporação e o plantio são
suficientes para diminuir este tipo de risco.
5. Época inadequada de
semeadura
Em boa parte do Brasil Tropical, as estações
chuvosa e seca se alternam de forma marcante. No Brasil Central, por exemplo,
as chuvas caem com maior freqüência a partir de outubro e se estendem
até abril. O início das águas é o período
ideal para o plantio de pastagens. Com isto, são maiores as chances de
um suprimento suficiente de água para o pleno desenvolvimento das plantas.
Plantios tardios, no entanto, podem fracassar.
À exceção da Brachiaria humidicola,
cujo desenvolvimento é lento, são necessários cerca de
90 – 120 dias para que uma pastagem tropical se estabeleça plenamente
se o plantio for bem feito; a velocidade do estabelecimento depende também
das condições de clima e solo. Isto significa que plantios feitos
a partir de março têm mais chances de fracassar em razão
da diminuição da freqüência de chuvas na região
mencionada, coincidindo com a fase de estabelecimento das plântulas.
6. Sementes de má qualidade
O plantio de sementes de má qualidade é causa
comum de fracassos na formação de pastagens. Isto ocorre principalmente
entre os pecuaristas que usam o preço por quilograma de sementes como
principal critério de compra, sem se preocupar com a qualidade do produto
adquirido.
O valor cultural das sementes (também conhecido
como %VC ou “pontos de VC”) é uma informação
imprescindível na compra de sementes de forrageiras. Este índice,
que é calculado com base nas percentagens de germinação
e de pureza física do lote, sintetiza duas das principais características
de qualidade das sementes. Esta informação é, portanto,
decisiva no momento da escolha do lote para a compra; diante de dois lotes com
preços idênticos por quilograma de sementes, a melhor compra é
o lote que apresentar a maior percentagem de valor cultural. Ou seja, o lote
que apresentar a menor relação entre custo por quilograma e %VC,
isto é, o menor valor resultante da divisão: R$ por kg / %VC,
é a melhor compra.
O conhecimento da %VC permite o cálculo da taxa
ideal de semeadura, ou seja, a quantidade adequada a ser plantada de cada lote
de sementes. Vale lembrar que os lotes podem diferir entre si quanto ao valor
cultural, razão pela qual a taxa de semeadura deve ser ajustada para
cada caso. Por lei, toda embalagem de sementes de forrageira deve apresentar
na etiqueta, dentre outras informações, a percentagem de valor
cultural.
Assim, vê-se que sucesso na formação
de pastagens não depende só de sorte ou de grandes investimentos.
Ele depende, principalmente, de uma boa dose de bom senso e de algum conhecimento.
Mas isto é só para quem está no negócio para ganhar
dinheiro...