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Sementes JC MASCHIETTO

Artigo publicado na Revista JC Maschietto ano 02, no 02, set/2004

Como pensam alguns técnicos e pecuaristas
Prof. Dr. Moacyr Corsi

Prof. Titular do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP, Piracicaba.

Freqüentemente tenho concluído palestras, aulas e reuniões com pecuaristas e técnicos com essa frase de E. Motta: "A verdadeira dificuldade não está em aceitar as novas idéias, mas em escapar das antigas".

Por que isso acontece na pecuária enquanto a agricultura parece não apresentar esse problema? Por que é usual a expressão entre pecuaristas "Na prática a teoria é outra" quando os agricultores procuram a teoria para fazer a prática?

As explicações estariam, em grande parte, em administração do sistema de produção e falta de análise de informações.

A administração do sistema de produção pelo pecuarista ainda é amadorística e até bucólica. Amadorística porque essa é a atitude de empresários urbanos bem sucedidos quando passam a ter interesses na área de pecuária, principalmente. Esses profissionais não empregam na empresa rural conceitos imprescindíveis para o sucesso da empresa urbana como: definir metas, tomar decisões fundamentadas em princípios técnicos, treinar a mão-de-obra e fiscalizar a execução das decisões tomadas no tempo e hora. Bucólica, porque, recentemente, um boletim informativo de uma empresa entrevistou um pecuarista que teria dito que "...se pecuária desse lucro seria até covardia", fazendo alusão ao fato de que a atividade lhe dava prazer, mas, provavelmente, pouco ou nenhum retorno econômico.

Essas situações decorrem da atitude do pecuarista, que é pouco presente nas decisões de seus negócios no campo. Fácil entender isso quando se pergunta ao pecuarista se ele visitou todos os piquetes (pastos) de sua propriedade naquele mês. Certamente poucos teriam resposta afirmativa. Não surpreenderia ouvir da maioria dos pecuaristas que raramente acontece de ver todos piquetes da propriedade em 6 ou mais meses. O agricultor de soja visita todos os talhos de duas a três vezes por semana e o mesmo faz o de algodão e de outras culturas.

Provavelmente muitos dos leitores estão pensando: São culturas diferentes com necessidades de tomadas de decisões que não se comparam e, .... etc.

A administração do sistema de produção pecuária em pastagens exige decisões tão freqüentes quanto a agricultura profissional. Como pode-se fazer o manejo do pastejo sem conhecer o pasto (cultura do pecuarista)? Como definir o número de cabeças de animais (taxa de lotação) sem conhecer a produção da forragem? Como definir se aquele piquete deveria ser pastejado por vacas multíparas ou primíparas (no caso de exploração da atividade de cria) ou por bois em acabamento ou garrotes (recria - engorda) se não foi avaliada a estrutura da planta forrageira, disponibilidade associada à quantidade de forragem em oferta?

A esses questionamentos o pecuarista amador responde que essa é a tarefa do administrador, gerente ou peão. Nesse caso, devemos admitir que esse pessoal é treinado, conhece metas de desempenho dos animais, estão presentes em reuniões do grupo de trabalho para discutir os resultados da semana (ou do mês) e participam do planejamento de curto, médio e longo prazos.

Em países desenvolvidos em relação à utilização de pastagens para produção animal, como a Nova Zelândia, a avaliação das pastagens é semanal durante o período de crescimento intenso das plantas forrageiras e as decisões sobre pastejo são diárias, muito semelhante a posições administrativas dos nossos profissionais em agricultura. Nessa situação a pecuária apresentaria retornos semelhantes ou melhores do que os da agricultura. Trabalhos recentes demonstraram retornos líquidos de R$575,00/ano/ha em pecuária de recria-engorda explorado intensivamente sem o uso de irrigação. Esses resultados têm sido comprovados em fazendas comerciais em São Paulo e Centro-Oeste.

Por que esse nível de retorno não é mais freqüente entre pecuaristas?

Provavelmente porque continuam tomando decisões baseando-se em discussões sobre idéias novas sem querer escapar das antigas. Assim, quando se discute sobre intensificação do sistema de produção, o pecuarista e alguns técnicos pensam em adubações, nova genética animal, divisão das pastagens, mudança no sistema de suplementação, etc. Quando intensificar significa utilizar melhor o recurso limitante. Não faz sentido adubar pastagens se o manejo do pastejo é o limitante. Nesse caso a adubação seria um desastre econômico porque só contribuiria para aumentar as perdas de forragem pelo pastejo. Por essa razão ainda se discute a economicidade da adubação em pastagens, enquanto que é inadmissível explorar economicamente qualquer cultura sem a nutrição da planta.

Como obter sucesso na adubação de pastagens sem conhecer manejo, resposta da planta forrageira à adubação e exigência nutricional do rebanho? Na falta desses conhecimentos o proprietário perde forragem por acamamento ou decréscimo no valor nutritivo da planta forrageira ("forragem passada") e conclui, erroneamente, que a adubação de pastagens não é econômica, quando em outras culturas o conhecimento sobre manejo da adubação e colheita é imprescindível para o sucesso econômico.

Ironicamente, na maioria das vezes o problema em sistemas de produção nas propriedades do sudeste e centro-oeste do Brasil não é o de elevar a fertilidade do solo e nem o de subdividir pastagens, mas o de aproveitar melhor os recursos presentes na propriedade. Nesse caso, intensificar é de custo quase zero, mas de retornos econômicos e administrativos sobre a equipe de trabalho muito significativos.

Enfim, E. Motta parece ter razão. Alguns técnicos e pecuaristas aceitam idéias, ou melhor, discutem idéias novas e esperam melhores resultados sem mudar as idéias antigas.

A agricultura já passou dessa fase e amadureceu quando teve que enfrentar a concorrência do mercado internacional. A pecuária brasileira, pressionada pela agricultura profissionalizada, deverá exercitar a discussão fundamentada em resultados técnicos, e não no "achismo", para competir e se tornar alternativa viável na integração com atividades agrícolas.



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